“Cativos portugueses em Argel. Longe de casa entre a dor e o prazer”, é o título da comunicação apresentada esta tarde por António Jorge Afonso, vice-presidente do ICIA e investigador do Centro de História, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, no Congresso Internacional “Longe de casa: ideias, emoções, imagens e escritos de saudade no Mundo Mediterrânico (1492-1923)”, que decorre hoje e amanhã na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).Entre 1778 e 1812 mais de seis centenas de portugueses sofreram na Regência de Argel as agruras do cativeiro. Provenientes de cinquenta embarcações – navios de pesca, mercantes e de guerra – perdidas para o corso argelino permaneceram mais de trinta anos longe da pátria a aguardar o seu resgate.
“Vítimas da conjuntura que protelou a sua redenção enfrentaram a indiferença de alguns sectores da sociedade portuguesa, as fragilidades da Fazenda Real, e os complicados contextos externos, europeu e magrebino, que rodearam a sua libertação. Estes cativos vão dialogar com a alteridade do sunismo hanafita adoptado pela elite turca dominante e o sunismo de rito malikita abraçado pela maioria da restante população. Entre a duplicidade discursiva usada na correspondência remetida para o reino e o confronto com capacidade inclusiva do islão, os cativos portugueses vão tentar gerir o seu quotidiano.
Perante o sofrimento de estar longe da pátria, próprio de activos que os seus senhores tentavam preservar e rentabilizar através da violência no complicado mercado do homem do Mediterrâneo Ocidental, os portugueses retidos em Argel mitigaram a ausência com alguns prazeres que o cosmopolitismo da grande urbe do Magrebe Central lhes proporcionou. Balançando entre a prática de duas narrativas, gerindo-as à medida dos contextos que os envolviam, tendo como derradeiro objectivo a libertação, os portugueses vão percorrer o estreito caminho que, entre a dor e o prazer, os
haverá de trazer de regresso a casa e à pátria.”
Por António Jorge Afonso, Cativos portugueses em Argel. Longe de casa entre a dor e o prazer (sinopse) (20.06.2022) .